segunda-feira, 2 de abril de 2007

Empate sofrido mantém liderança e incerteza

"O jogo do título" segundo a imprensa; um "jogo que não decidia nada", segundo os treinadores das equipas intervenientes. Jogou-se na Luz, esta noite, uma partida que apesar de não ser conclusiva para determinar o campeão nacional, podia ter um papel importante nas contas do título. Caso o Benfica vencesse, tomava a liderança; caso o FC Porto vencesse, abria um fosso de 4 pontos difícil de recuperar pelos adversários. O desfecho acabou por ser o mais inconclusivo: o empate, que mantém a diferença de apenas 1 ponto favorável aos dragões.



Apesar da quebra de forma visível no FC Porto desde que entramos no ano de 2007, que fazia antever dificuldades para este jogo, verificou-se uma algo surpreendente atitude positiva da equipa na 1ª parte. Sem sufocar verdadeiramente os adversários, nem criar ocasiões de perigo em grande número, o FC Porto ia dominando claramente a posse de bola à entrada do meio-campo benfiquista. Dois lances sobressaíram do 1º tempo: um passe de génio de Lucho Gonzalez a isolar Adriano, com uma grande intervenção de Quim a evitar o golo; e o golo, já perto do intervalo, um cabeceamento de Pepe após livre executado por Ricardo Quaresma. Chegámos ao intervalo a vencer, com justiça.

Na 2ª parte tudo foi diferente. O Benfica entrou claramente mais moralizado, e com maior dinâmica ofensiva após a entrada de Rui Costa. Por sua vez, o FC Porto desistiu demasiado cedo da estratégia que estava a pôr em prática, controlando serenamente o jogo sem abdicar de procurar a baliza adversária, e pareceu remeter-se apenas a tentar defender o resultado de forma calculista. É certo que a linha defensiva estava a se exibir a um grande nível, mas recuando tanto a equipa corríamos sérios riscos caso o Benfica "embalasse" no ataque. O que aconteceu, embora só resultasse em golo aos 82 minutos, num lance infeliz em que Lucho González introduziu a bola na própria baliza.

Acabamos o jogo em grande sofrimento, com Hélton a ter de intervir um par de vezes a evitar uma derrota que seria comprometedora. Contra a corrente do jogo, o último lance da partida quase que nos dava a vitória, com os substitutos utilizados Cech e Rentería a se entenderem bem, e o colombiano quase a bater Quim pela segunda vez.

O resultado final não é negativo para as nossas aspirações, pois continuamos a depender de nós próprios para a conquista do campeonato, e temos vantagem no confronto directo, caso terminemos empatados em pontos com o Benfica. Mas a equipa teima em não voltar aos níveis competitivos demonstrados nos últimos meses de 2006. Não foi uma exibição convincente, deixando interrogações quanto ao futuro.

Análise individual:

Hélton (8) - Sempre muito seguro, preferindo não arriscar e sacudir a bola quando esta vinha em condições difíceis, não abdicando contudo de agarrar a bola em todos os cruzamentos a que saía. Acabou por salvar a equipa da derrota com duas excelentes defesas já nos descontos, a remates de Mantorras e Derlei.

Bosingwa (7) - A fazer a melhor época como jogador profissional, continua a se exibir a muito bom nível defensivamente. É um jogador com uma velocidade notável. No entanto, no final do jogo era pelo seu lado que o Benfica mais criava perigo.

Pepe (8.5) - Soberbo. Fez as compensações de forma incansável na defesa, cortou inúmeras bolas. Ainda teve tempo para ir lá à frente e marcar o único golo da equipa. Na minha opinião, o melhor em campo.

Bruno Alves (7) - Não tão exuberante como Pepe, mesmo assim esteve bastante bem. Aponto-lhe no entanto uma entrada desnecessariamente dura que fez logo no início do jogo, que com um critério mais apertado lhe podia ter valido uma expulsão.

Fucile (6) - Teve mais dificuldades que os seus companheiros de sector, principalmente para parar Nélson que estava inspirado. Também reparei que numa ou outra vez, fazia compensações no centro do terreno, o que era contra-produtivo porque criava um enorme buraco do lado esquerdo da defesa.

Paulo Assunção (6.5) - Razoável. Já o vi fazer jogos bem melhores, mas também não esteve assim tão mal quanto isso.

Raúl Meireles (6) - Pouco interventivo. Fez uma falta desnecessária que lhe valeu um amarelo e um livre perigoso, no lance em que se lesionou e teve de sair.

Lucho González (6.5) - Safou-se um passe de génio que isolou Adriano na 1ª parte, e vários cortes até em lances de bola parada. De resto... esperava-se mais, principalmente a criar jogo. Mete nervos a forma como às vezes ele recusa-se a fazer pressão sobre os adversários, andando a passo seguindo o lateral adversário com os olhos. Não lhe atribuo culpa no lance do auto-golo - estava apenas no lugar errado na hora errada.

Quaresma (6.5) - Em jogo corrido a sua produtividade foi zero. Esteve muito, muito longe do que se viu durante esta época, ou até mesmo no último fim-de-semana em Alvalade pela selecção. Mesmo assim, criou muito perigo na marcação de bolas paradas, fazendo a assistência para o golo de Pepe.

Jorginho (6.5) - Muito esforçado, bastante bem a fazer pressão alta. Não estava a ter muito sucesso com a bola nos pés, perdendo algumas bolas, mas contrariamente ao resto da equipa subiu de produção na 2ª parte, e começou a criar perigo. Foi substituído na altura em que estava a jogar melhor.

Adriano (6.5) - Na disputa das bolas aéreas contra os centrais benfiquistas, teve saldo positivo - quase sempre ou ganhava a bola ou ganhava falta. Teve apenas um lance para golo, que não concretizou, mas aí dou mais mérito ao Quim que demérito ao Adriano - timing perfeito do guarda-redes benfiquista que se esticou ao máximo.

Cech (6.5) - Não trouxe grande coisa à equipa quando entrou em campo, mas no final do jogo acabou em alta, primeiro quase se isolando vindo embalado sozinho do meio-campo, depois assistindo Rentería para o pôr cara-a-cara com o guarda-redes. Mostrou que tinha argumentos para ser titular, ou no lugar de Meireles ou no lugar de Fucile.

Rentería (2) - Péssimo, incrivelmente trapalhão. Corria que se fartava atrás da bola, mas nunca ninguém tinha problemas para passar por ele. Andava perdido em campo. Tentou fintar adversários sem fim, até lhe tirarem a bola. Safou-se uma falta que arrancou em zona perigosa, e o lance no fim do jogo em que quase marcava golo. Mas até aí ficou a sensação que rematou sem querer.

Anderson (-) - Entrou no minuto 89 e apenas teve tempo para lhe bloquearem um remate à entrada da área. Tenho dificuldades em perceber qual foi o objectivo da sua entrada em campo. Queimar tempo?!

Em relação à arbitragem - já li queixas de parte-a-parte, mas na minha opinião, embora não tenha sido uma arbitragem perfeita, esteve a um nível aceitável. O Benfica pede dois penaltis que parecem-me ter sido ambos bem ajuizados por Pedro Proença - no primeiro lance Ricardo Quaresma não toca a bola com a mão, apesar dos protestos de Nélson; no segundo lance a bola vai efectivamente à mão de Bosingwa mas é um lance à queima-roupa, para além disso Bosingwa tem a mão encostada ao corpo a protegê-lo.

Aparentemente o golo do Benfica terá sido irregular, por fora-de-jogo milimétrico de David Luiz. Sendo assim, temos razões de queixa, mas compreende-se a decisão do auxiliar devido à dificuldade de ajuizar o lance. Estranho também o comportamento do árbitro a mostrar amarelo a Lucho por protestos, para depois aceder à sua queixa, deixando realizar-se a substituição de Meireles por Cech. Algo incoerente.

Finalmente, uma palavra em relação aos incidentes fora do campo, nomeadamente o arremesso de petardos para zonas com adeptos, que até incluíam crianças. O futebol é um jogo, do qual faz parte a rivalidade e agressividade, mas não passa disso, dum jogo, de entretenimento, de um desporto. Quem pratica tais actos vê o futebol não como um jogo, mas como uma guerra. O que é uma mentalidade mesquinha e lamentável. Se os responsáveis por estes actos são adeptos do nosso clube (e aparentemente tratam-se de membros dos Super Dragões), apenas mancham o nome do FC Porto.

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