segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Eficácia deprimente

7 jogos, 7 vitórias, 7 pontos de avanço. Este início de campeonato tem sido deprimente, não porque o sucesso do FC Porto em si seja deprimente (pelo contrário...), mas porque a forma pouco convincente com que o clube vai vencendo todos os jogos é aparentemente suficiente para dominar a liga. Sem que haja qualquer tipo de emoção ou competição.



E foi mais um jogo deste género que se desenrolou esta noite em Coimbra. O FC Porto apresentou em campo o mesmo 11 que tem servido de base durante as últimas semanas: Hélton; Fucile, Bruno Alves, Stepanov e Bosingwa (Cech 33'); Paulo Assunção, Raúl Meireles e Lucho González; Quaresma (Adriano 78'), Tarik Sektioui (Leandro Lima 53') e Lisandro López. A Académica alinhou com Pedro Roma; Kaká, Orlando, Litos e Pedro Costa; Miguel Pedro (Vouho 84'), Pavlovic (Tiero 72'), N’Doye e Lito; Ivanildo (Hélder Barbosa 30') e Joeano.

A primeira parte começou com algum ascendente do FC Porto. Ricardo Quaresma era o homem em maior destaque (que surpreendente...), desequilibrando pelo flanco esquerdo mas raramente criando reais chances de perigo. A Académica tinha menos posse de bola, ocasionalmente também chegando lá à frente, mas sendo ainda mais inofensiva. Foi neste período talvez que Hélton teve mais trabalho durante todo o jogo – foi obrigado a desviar com os olhos dois remates mal direccionados.

À passagem do minuto 20, finalmente um safanão no jogo. Lisandro Lopez ganha na raça uma bola de cabeça, Quaresma leva também em esforço a bola à linha, atrai Pedro Roma para fora da baliza, e cruza rasteiro para Tarik Sektioui. Cara a cara com as redes desertas, o marroquino consegue uma proeza incrível: meter o calcanhar a bola, dando-lhe uma trajectória perpendicular à que deveria levar a bola à baliza. Pode-se já afirmar com toda a certeza que foi o falhanço do campeonato.

Não demorou muito o golo. 5 minutos depois, N’Doye carregou Quaresma na área com algum aparato, e gerou-se ainda mais aparato com os protestos dos jogadores da Académica. O fiscal-de-linha tinha dado erradamente o sinal de que a falta seria fora da área, e quando os jogadores da equipa da casa perceberam que o árbitro iria dar penalty, gerou-se a confusão. Pedro Roma encarregou-se de acalmar os colegas, e permaneceu impávido e sereno a meio da baliza enquanto Lucho González colocou a bola junto a um dos postes, na marcação do penalty. 1-0. Daí até ao intervalo, apenas houve a registar as lesões de Bosingwa e Ivanildo (jogador emprestado pelo FC Porto à Académica, que seria substituído por outro jogador na mesma situação, Hélder Barbosa), e mais dois lances de perigo – primeiro Hélton foi mesmo obrigado a intervir, antecipando-se com os pés a uma jogada perigosa do ataque da Académica, depois Tarik e Quaresma combinaram bem, desta vez sendo o marroquino a cruzar para Quaresma cabecear à figura de Pedro Roma.

Logo após o intervalo, ocorreu a única jogada que fez com que valesse a pena ver este jogo (ok, ok, o falhanço de Tarik também foi memorável): Cech, Quaresma, Lisandro e Lucho combinaram muito bem numa grande jogada colectiva, o médio argentino ficou frente-a-frente com o guarda-redes, mas permitiu a defesa. A partir daí, tivemos um jogo completamente desinteressante. O FC Porto foi experimentando novas opções tácticas, nomeadamente um 4-4-2 com Lisandro e Quaresma, e depois com Lisandro e Adriano – mas apesar de dominar a posse de bola, nunca mais incomodou Pedro Roma nem mostrou intenção de o fazer. A Académica ocasionalmente tentava jogar futebol, através das arrancadas de Hélder Barbosa (deixou a impressão que precisa ainda de crescer um pouco, mas sem dúvida no futuro irá ser um jogador muito útil ao FC Porto), e duma série de pontapés acrobáticos de Joeano.

No final, 1-0, vitória natural, sem grande esforço. O campeonato está muito, muito longe de estar decidido, mas assusta a forma como um FC Porto tão medíocre (apesar da sensação que a mediocridade neste jogo resultou da gestão de esforços) vai liderando o campeonato com 7 pontos de avanço sobre Sporting e Marítimo, e com o triplo dos pontos do 7º classificado. É principalmente culpa dos nossos adversários que têm estado francamente mal, mas a liga não está a sair particularmente prestigiada nesta edição. E até por outras razões que não são para aqui chamadas (arbitragens...).

Análise individual:

Hélton – saíu-se bem na única vez que teve de cortar um lance de ataque. Nunca teve que fazer uma defesa digna desse nome.

Bosingwa – pareceu estar mal desde o início, raramente interviu no jogo e saíu lesionado à meia-hora. Esperemos que não seja nada de grave, tem sido um jogador muito importante desde a última época.

Bruno Alves – o melhor da defesa, cortou muitas bolas pelo ar e pelo chão, principalmente na primeira parte.

Stepanov - não tão exuberante quanto o seu companheiro no centro da defesa, mesmo assim esteve bem. Viu um amarelo estúpido por protestos.

Fucile – foi hoje o pior do FC Porto. Fez uma série de passes muito maus para fora do campo, e teve grandes dificuldades em parar Hélder Barbosa.

Paulo Assunção – bom jogo. Cortou vários contra-ataques de forma bastante subtil, sendo útil à equipa e conseguindo evitar o cartão amarelo.

Raul Meireles – mostrou ter visão de jogo, ao se envolver frequentemente em tabelinhas e passes para a desmarcação de colegas. Nem sempre conseguiu executá-los da melhor forma.

Lucho González – jogo esforçado. Recuperava bolas que depois as perdia, e que depois as recuperava de novo - estava sempre em posição de se envolver na trapalhada do meio-campo. Marcou muito bem o penalty que deu a vitória, mas falhou uma grande oportunidade de bola corrida na marca de grande penalidade.

Quaresma – foi o típico Quaresma deste início de época, não fez muitos pormenores bonitos mas de vez em quando desequilibrava, os lances de ataque passavam quase sempre por ele, e foi ele que sofreu a falta que deu o penalty.

Tarik Sektioui – se esquecermos o falhanço, pode-se dizer que fez um jogo razoável, por um lado raramente dando a melhor execução técnica aos lances, por outro lado jogando sempre de forma objectiva e simples. Mas não dá para esquecer.

Lisandro – está-se a tornar um pouco repetitivo elogiar a atitude de empenho que ele mostra em campo, mas mais uma vez ele mostrou isso mesmo. Para ser uma grande exibição, só faltou o golo que ultimamente não lhe tem faltado.

Cech – esteve bem, principalmente em acções defensivas. Não brilhou, mas gostei do jogo que o eslovaco fez.

Leandro Lima – já vi melhores jogos do Leandro. Voltou a demonstrar a sua qualidade técnica, mas a insistência dos adversários em jogar duro sobre ele dificultou-lhe a vida.

Adriano – num lance ia conseguindo uma brilhante assistência de calcanhar para Leandro Lima. Noutro lance deitou um ataque perigoso a perder, com um domínio de bola muito mau. E foi tudo o que deu para ver do Adriano.

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