De trapezista a encantador, passeando na corda bamba no prelúdio do devaneio que arrancará da plateia o mais genuíno êxtase, Ricardo foi o génio incompreendido que chegou para se vestir de mágico antes de um general holandês o forçar a sujeitar-se aos mesmos condicionalismos tácticos dos seus pares. E Ricardo deixou-se de um enfeitiçar egoísta para compartilhar com o mundo e seus companheiros as maravilhas com que foi inatamente dotado.
Incluído no negócio que levaria Deco para a catalunha, um fracassado Quaresma regressava à patria para se juntar ao Campeão Europeu em título, martirizado por um absurdo volume de movimentações no mercado de transferências. Reconhecidamente capacitado, o cigano não se livrava da pressão do tribunal das Antas, impiedoso para com o egoísmo que tão ingloriamente comprometia sucessivas movimentações ofensivas. Foi um Quaresma de fogachos, alternando o estado de graça com um lugar no banco de suplentes, um pouco à imagem da própria equipa, satisfatória na Europa, mas decepcionante nas provas internas.
Simples e, contudo, brilhante. Quaresma desembaraça-se de Paulo Ferreira e assiste primorosamente Benni McCarthy. Um dos momentos altos do FC Porto dessa época.
2005/2006 chegou e trouxe com ela Co Adriaanse, incontornável figura na evolução de Ricardo. Pressionado pelo rígido técnico, o extremo capacitou-se que o futebol não consistia num slalom gigante terminado na baliza adversária. A equipa agradeceu e o FC Porto foi naturalmente abrindo caminho rumo ao título, com Ricardo, assistente e marcador, como figura de proa. A Liga vergou-se perante a sua mestria e a imprensa, rendida, agraciou-o com o prémio de melhor jogador da competição. Scolari, céptico, privou-o do Mundial '06.
Felino, Quaresma pincelava de ouro cada jogada. O Rio Ave suportou o cerco durante 85'. Até que o cigano quis fazer o mundo vergar-se à sua trivela.
O Porto era já a equipa de Quaresma. A par do argentino Lucho Gonzalez, Ricardo chamava a si os holofotes, enebriando plateias e enchendo páginas de jornais. Eis que chega ao Porto um menino chamado Anderson e o planeta futebolístico põe os olhos no guri que promete igualar Ronaldinho. Ofuscado, Quaresma voltou a ser o jovem Ricardo, autista de um mundo bipolar onde só ele e a bola têm lugar. A mudança foi marcada pelos pitons de Katsouranis. O miúdo maravilha contorceu-se de dores fora das quatro linhas, incauto do irónico favor que prestava ao seu colega. O Porto passou a respirar por Quaresma, e o cigano encarregava-se de fazer fluir todo o seu futebol.
O FC Porto recebia os seus rivais lisboetas. Uma obra-prima, apenas ao alcance de predestinados.
Em dois meses, é destacadamente o melhor jogador da Liga, a qual parece cada vez mais mesquinha para conter o brilhantismo que a cada jornada Ricardo vai jorrando nas alas dos relvados deste país.
Dados de carreira no FC Porto:
Jogos: 74
Golos: 16
Esta época:
Jogos: 20
Golos: 6
Assistências: 13
sábado, 23 de dezembro de 2006
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5 comentários:
Quaresma , simply the best ;D
Bahhh... o Lucho é maior! :(
Eheh!
E esse música fica melhor com o Deco! :D
http://www.youtube.com/watch?v=RXL-y2VwtFg
Agora resta saber qual dos Ricardos irá sobreviver aposta o regresso do menino Andersson...
Bastante interessante a visão internacional que divulgam de vários momentos do Porto. Continuem.
Hegemonia é a palavra que me vem à cabeça.
Simplesmente os melhores. Não sempre, mas quase sempre.
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