terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Gestão do plantel desde 2004: equipa destruída ou renovação necessária?

Verão de 2004, ponto de viragem no Porto e no futebol português. Se calhar o que nos vem logo à memória ao pensar nesse Verão seja o grande evento que foi o Euro 2004, mas outro facto de grande relevância marcou profundamente o nosso clube - o fim da super-equipa de Mourinho, que tornou real o sonho de ver o FC Porto de novo campeão europeu. Neste texto pretendo analisar as consequências da saída de José Mourinho e dos pilares principais da equipa campeã europeia, mais em concreto as opções tomadas em relação a jogadores nos dois anos e meio seguintes.

No futebol a opinião pública é sempre extremamente dependente dos resultados, tal tradicionalmente aplica-se sobretudo à figura do treinador,
mas tendo em conta o que se passou com o nosso clube no passado recente parece-me que a direcção/SAD "sofreu" do mesmo mal perante os adeptos. Na época conturbada de 2004/05, acresceu à debandada das grandes estrelas portistas a passagem de 3 diferentes treinadores (Del Neri, Fernandez, Couceiro), e os péssimos resultados - resultando em críticas generalizadas à forma como a equipa que conquistou a Europa estava a ser gerida. No ano seguinte, com o título nacional de Adriaanse, e com o consequinte Porto ainda mais dominador de Jesualdo Ferreira em 2006, a opinião generalizada agora é de que foi feita uma renovação do plantel com grande sucesso. Mas afinal em que é que ficamos? Proponho dividir todos os jogadores que passaram pela equipa principal desde esse Verão em grupos para uma análise mais aprofundada.

Jogadores que ainda se mantêm
Vitor Baía
Pedro Emanuel
Bosingwa


Por aqui logo se vê que esta equipa não tem rigorosamente nada a ver com a equipa de há dois anos e meio atrás. Baía e Emanuel, antigos titulares, encontram-se em fim de carreira já com substitutos anunciados (embora Pedro possa ainda voltar a ganhar dimensão na equipa dado que só se encontra afastado devido a lesão). Bosingwa é
a excepção à regra - é o único jogador em que Mourinho já apostava e que só agora se afirma na equipa principal a um bom nível.

Excelentes contratações
Pepe
Quaresma
Lucho Gonzalez
Hélton
Anderson


Quando Vítor Baía saiu em 1996 para o Barcelona, a baliza do Porto mergulhou numa crise que durou vários anos. Desta vez, nem foi preciso esperar pela retirada do nº 99 para encontrar substituto - Hélton ganhou o lugar com todo o mérito.

Os grandes pilares da actual equipa, provenientes de origens bastante distintas, mas qual deles a melhor contratação... Hélton resolveu desde logo a questão da "sucessão" de Vítor Baía, Lucho e Pepe tornaram-se respectivamente nos patrões do meio-campo e da defesa, Quaresma é actualmente o melhor jogador do campeonato com um rendimento sensacional, Anderson aparenta ter qualidade para no futuro ser jogador de top a nível mundial. 5 contratações brilhantes.

Boas contratações
Hélder Postiga
Raúl Meireles
Paulo Assunção
Ibson
Lisandro López


Mas uma equipa não se faz só de 5 jogadores, e aqui estão outros 5 muito úteis ao actual plantel portista. Postiga parece este ano querer se afirmar como membro do grupo restrito que mencionei anteriormente, mas as 2 más épocas anteriores do ponta-de-lança inspiram prudência. Meireles, Assunção, Ibson e Lisandro não são indispensáveis mas são jogadores consistentes, claras mais-valias para o plantel.

Vendas milionárias
Ricardo Carvalho
Paulo Ferreira

Deco
Maniche
Costinha

Derlei
Nuno Espírito Santo
Giourkas Seitaridis
Pedro Mendes
Benni McCarthy


Ficará para sempre a dúvida se era mesmo necessário desfazermo-nos de jogadores tão fantásticos como Deco e Ricardo Carvalho. No entanto, com a vontade clara demonstrada por eles em experimentar novos desafios, seria bom mantê-los desmotivados no plantel? E não é justo que se dê um prémio a jogadores que tanto deram pelo nosso clube? Para além desta "dívida moral", as verbas desembolsadas por Chelsea e Dinamo Moscovo eram em certos casos irrecusáveis - a famosa transferência de Paulo Ferreira, actual suplente do clube inglês e da selecção, por 20 milhões de euros irá ficar na história como um dos melhores negócios que alguma vez conseguimos. No entanto, as saídas para Moscovo ficam manchadas pela incapacidade do clube russo em pagar as verbas que tinham fi
cado acordadas. Não poderá ser incutida alguma responsabilidade à nossa SAD por vender jogadores sem garantias definitivas que o clube comprador os poderia pagar?

Benni McCarthy não representou uma venda propriamente "milionária" mas com a vontade indesmentível de experimentar o futebol inglês, parece-me apropriado incluí-lo aqui. As saídas de Deco e Pedro Mendes valeram sobretudo por envolverem as contratações de Quaresma e Postiga, directa ou indirectamente, como parte dos negócios.

Saídas naturais
Paulo Santos
Tiago
Cândido Costa
Secretário
Bruno
Alenichev
Ricardo Fernandes
Evaldo
Ibarra
Mário Silva
Marco Ferreira
Jankauskas
Pena
César Peixoto
Maciel
Cristóvão
Nuno Valente
Jorge Costa
Marcos António
Ricardo Costa

Esta é a lista de todos os jogadores, que já em 2004 se encontravam vinculados ao clube, e que naturalmente acabariam por abandoná-lo. Alguns saíram já sem capacidade para actuar a níveis que haviam demonstrado serem capazes de actuar anteriormente (Jorge Costa, Nuno Valente, Alenichev, ...), mas a estrondosa maioria nunca foram grandes craques. É impressionante verificar em retrospectiva a quantidade industrial de mancos com que Mourinho contava, e mesmo assim ganhou o que ganhou!

Apostas sem nexo
Rossato
Areias
Hugo Leal
Leandro
Leo Lima
Cláudio Pitbull
Leandro do Bonfim
Sokota
Alan
Sonkaya
Sandro
Ezequias
Tarik Sektioui

Podemos ter feito algumas grandes contratações, mas também é verdade que para cada Pepe saiu-nos um Ezequias e um Sonkaya. É algo preocupante a quantidade de apostas completamente falhadas pela SAD portista, na qual se realça sobretudo a famosa escola de samba da época 2004/2005, e contratações ridículas de jogadores que nem chegaram a vestir a camisola do FCP (Rossato e Sandro). Parece-me também que em certos casos, como os de Pitbull e os dois Leandros, os jogadores em causa mostraram relativa qualidade, e podiam ter sido algo melhor aproveitados. Mas de talentos verdadeiramente desperdiçados vou falar a seguir...

Jogadores desperdiçados
Diego
Luis Fabiano
Carlos Alberto

Hugo Almeida (?)

Diego - de dispensável por Adriaanse a melhor jogador da melhor equipa alemã.

O caso mais gritante é claramente o de Diego, nova vedeta do Werder Bremen, jogador com capacidade para se tornar uma estrela do futebol internacional. Luis Fabiano também não teve sorte no Porto, para mais tarde se tornar num marcador de golos regular por um super-Sevilha. Carlos Alberto deu-se ainda pior no Corinthians que no Porto, mas tinha enorme potencial. Quanto a Hugo Almeida, ainda é possível que regresse ao Porto, mas parece-me mesmo assim um desperdício dar a hipótese de compra ao Werder Bremen por um valor reduzido para o seu potencial (se não me engano, foi noticiado que esta cláusula andava à volta de 3 milhões de euros).

Jovens com possível futuro
Bruno Moraes
Bruno Vale
Paulo Machado
Vieirinha
Hélder Barbosa
Bruno Gama
Ivanildo
Paulo Ribeiro
Diogo Valente

Como se pode ver, o clube tem um grupo alargado de jogadores jovens com valor. Moraes é de momento o que se afirma na equipa principal e o que mais parece ser já um valor seguro, mas também me parece que Barbosa e Vieirinha têm tudo para se tornarem excelentes jogadores. Há que ter em atenção no entanto que nem todos eles irão lá chegar, tenho grandes dúvidas sobre Ivanildo por exemplo, e já tive maiores esperanças em Bruno Vale.

Contratações medianas ou ainda incógnitas
Bruno Alves
Jorginho
Marek Cech
João Paulo
Adriano
Jorge Fucile

Finalmente, sobra um leque de jogadores cujas aquisições ainda são complicadas de analisar definitivamente. Bruno Alves parece estar a evoluír, tendo ganho um lugar no 11, mas é difícil de o considerar como um verdadeiro "talento". Marek Cech esteve bem quando chegou à equipa mas a sua época de 2006/07 tem sido muito fraquinha. João Paulo teve uma lesão complicada e ainda não teve oportunidades. Adriano e Jorginho foram importantes em certos momentos da época passada mas não são jogadores de qualidade indesmentível. Finalmente, Fucile está cá há muito pouco tempo para se poder ajuizar o seu valor com certezas.

O veredicto
Por muito que critique a forma como as opiniões andam ao sabor do vento consoante os resultados, é difícil não dar neste momento, em que o Porto domina a liga portuguesa e apresenta-se bem na Europa, um veredicto positivo à renovação efectuada no plantel. Como é possível dizer-se actualmente que contratar Quaresma ou Hélton foi um erro? Considero que as vendas de Decos e Maniches eram inevitáveis e foram bem rentabilizadas, que a época perdida de 04/05 foi um mal necessário para se poder consolidar aos poucos uma nova equipa, que no global as novas contratações foram bem conseguidas. Claro que só posso dar nota positiva a estes dois anos e meio de renovação.

Nota positiva mas não perfeita. O clube fez imensas contratações falhadas, deitou no lixo dois jogadores importantes nos actuais líderes da liga espanhola e da Bundesliga, acreditou inocentemente que iria receber milhões por jogadores tão valiosos como Nuno Espírito Santo ou um Derlei em início de fim de carreira. Cometemos os nossos erros. Mas na minha opinião, as boas opções foram superiores aos erros.

2 comentários:

Anónimo disse...

Texto bastante elucidativo daquilo que se passou, a nível de vaivém de jogadores, no "Pós-Mourinho".

A principal conclusão que se retira é que, apesar do investimento em Sonkayas e Tariks ser pequeno, é feito em grande quantidade e o dinheiro que gastámos em todos esses jogadores que referiste como "Apostas Sem Nexo" talvez não seja coberto pelo (pouco) dinheiro que fizémos com os "Jogadores Desperdiçados".

Meirinho disse...

Excelente análise, noikeee. Concordo contigo na ilacção que retiras deste moroso processo. Apesar de demasiados 'erros de casting', conseguimos num espaço relativamente curto reerguer-nos como a principal potência do futebol português.

Abraço.