O FC Porto da época passa foi um relógio suíço. Facto. Mesmo quando as suas individualidades se encontravam desinspiradas ao nível técnico, a confiança do colectivo no seu esquema táctico resolvia problemas como o do “Encalhamento nas Caxinas”.
Qualquer adepto portista que tenha vindo a acompanhar o percurso da sua equipa desde a mão cheia em Guimarães, pré época incluída, notoriamente terá reparado que a bateria daquele relógio tem vindo a morrer. O Porto tem sérias dificuldades em manter uma toada coesa e equilibrada ao longo dos 90 minutos de uma partida de futebol. Numa perspectiva extremamente analítica e pragmática, não é difícil de descobrir a razão para tal diminuição na cadência ofensiva da equipa: Lucho Gonzalez. Atenção! Não estou a tentar começar aqui uma argumentação tumor-lucho. Luis Gonzalez é, sem qualquer contestação o melhor jogador do nosso plantel, e arrisco-me a dizer que será o melhor do nosso campeonato. A questão não se prende com o valor individual do jogador, mas antes com a sua função no desenho táctico do onze portista. Lucho é o líder. Lucho é o condutor. Lucho é quem segura o fio de jogo portista. Mas toda a gente conhece, desde o primeiro dia que Luis Gonzalez vestiu a camisola azul e branca, que Lucho é um jogador demasiado débil fisicamente para carregar tal responsabilidade jornada após jornada. O desacelerar que se tem vindo a assistir de há uns meses para cá deve-se única e exclusivamente (na minha opinião, que vale o que vale) a uma enorme dependência do conjunto portista em relação ao seu comandante. Lucho precisa de alguém ao seu lado no centro do terreno com um QI futebolístico semelhante ao seu. Tomás Costa e Meireles são tremendos jogadores de equipa, mas em alguns momentos mostram limitações no que toca à técnica individual. Rodriguez podia complementar o ritmo de Lucho, mas tem a tendência natural de extremo para descair para as alas do relvado distanciando-se muitas vezes de Gonzalez. Finalmente, temos Guarin. O colombiano tem potencial, mas tarda em soltá-lo, com a sua idade e já alguma experiencia num campeonato europeu é preocupante assistir a momentos de alguma imaturidade e ingenuidade por parte do atleta. Penso, que na época de transferências, o nosso clube deixou escapar uma excelente oportunidade para arranjar tal jogador, o tal que tire peso dos ombros de Lucho na manobra ofensiva da equipa, estou a falar do jovem internacional brasileiro que trocou o Fluminense pelo Hamburgo, Thiago Neves.
Mas foi sem Thiago Neves que o FC Porto se apresentou na passada sexta-feira no Estádio do Dragão frente a um adversário que na jornada anterior tinha conseguido introduzir a bola por três vezes na baliza de um dos três grandes. No entanto, não era isso, com certeza, que pesava a cabeça dos nossos atletas e equipa técnica, mas antes os dois pontos que tinham deixado fugir nas Caxinas, por culpa própria, ao oferecerem 45 minutos de desconto ao cliente daquela jornada.
Na sexta, foi claro que era isso mesmo que preocupava o conjunto azul e branco, na medida em que, os primeiros minutos do encontro mostraram um FC Porto com uma vontade cega (o que, por vezes, conduziu a alguns lances disparatados) de marcar cedo para se livrar dos fantasmas que pairaram em volta do grupo ao longo de uma semana. Sempre liderados pelo enorme coração de Lisandro, pelo já comum amor de Meireles à camisola (desta vez com uma preocupação redobrada devido à ausência do seu habitual companheiro de meio-campo - Lucho), e por uma, agradável de se ver, entrega ao jogo de Rodriguez.
Com tamanha vontade colectiva, não foi estranho assistir ao golo madrugador de Meireles. Trabalho inconfundível de Lisandro, na linha de cabeceira, a assistir o número 16 para um remate colocado de pé esquerdo no limite da grande área. A partir deste momento, o costume. A ideologia pro-italiana de Jesualdo a impor o habitual ritmo de ponto-morto no jogo da equipa quando se encontra em vantagem no marcador. Confesso, que sou um fã dessa abordagem ao jogo. O Futebol moderno tem-nos dado provas de que tal abordagem dá resultados: Grécia no Euro 2004, Itália no Mundial de 2006, AC Milan demasiadas vezes campeão europeu desde que entramos no séc. XXI, a presença constante do Liverpool em fases finais dessa mesma prova, a presença do Villareal numas meias-finais de uma Champions League sem ganhar um único jogo após a fase de grupos, e até a maneira de jogar adoptada por Alex Ferguson na Champions da época passada. Só que para poder confiar numa tal abordagem ao jogo é preciso uma confiança extrema na segurança do eixo defensivo, sector onde é clara a situação de reconstrução que está a viver o plantel do FC Porto.
Jesualdo, já na segunda parte, viu que o Paços estava a entrar numa fase de recessão futebolística devido a uma clara crise no combustível das pernas dos jogadores, decidiu tentar matar o jogo ao colocar duas peças de ataque: Hulk e Candeias. Ambos entraram muito bem, sendo que o primeiro chegou mesmo a facturar, numa jogada iniciada e terminada com o seu talentoso pé esquerdo.
É um Porto ainda muito imberbe que se tem apresentado aos seus adeptos no inicio de temporada. Contudo, tal não é razão para assobios. Estamos falar do Tri-Campeão e de um dos Campeões Europeus do séc. XXI. É verdade que tal inigualável currículo possa acabar por se tornar numa lâmina de dois gumes, ao colocar a fasquia do nível de exigência portista demasiado alta para um clube que tem um orçamento demasiado pequeno comparativamente com tubarões como Man Utd, Real Madrid ou Inter.
Análise final: É preciso paciência para com esta equipa que acabou de perder ainda há poucos meses jogadores como Quaresma, Bosingwa e até Paulo Assunção. Rodriguez não é Quaresma, mas parece cada vez mais em sintonia com o fluxo de jogo portista, Sapunaru não é Bosingwa, mas é um jogador relativamente seguro no que toca a defender e com alguns rasgos interessantes no processo ofensivo da equipa, precisa de se ambientar com um dos processos mais complexos de uma equipa de futebol – a linha defensiva, e Fernando não é Assunção com toda a sua experiencia de jogo, mas mostra que tem tanto ou mais potencial que tinha o ex numero 6 portista aquando a sua chegada ao plantel vindo do Nacional.
MVP: Raul Meireles – 1 golo e uma assistência. Nada a acrescentar