Um Porto dependente da gestão do plantel efectuada por Jesualdo Ferreira em vista com o próximo jogo com o Schalke, enfrentou o rival Boavista no Bessa esta noite, sem que se notasse menos dedicação dos que entraram em campo mas também sem que estes estivessem particularmente felizes. Os espectadores foram para casa sem ver os golos pelos quais pagaram bilhete, apenas com a consolação de terem presenciado o regresso de Quaresma às grandes exibições.Esta partida não se avizinhava particularmente interessante: desde logo Jesualdo Ferreira deixou jogadores-chave como Lisandro Lopez, Bosingwa e Pedro Emanuel de fora da convocatória, e ainda Quaresma, Bruno Alves e Raúl Meireles no banco. Tudo em nome da gestão de esforços, com um dos maiores desafios da época pela frente na próxima quarta-feira: recuperar a desvantagem de um golo trazida da Alemanha do campo do Schalke 04, e qualificar o FC Porto para os quartos-de-final da Liga dos Campeões.
Sendo assim Stepanov, João Paulo, Cech, Kazmierczak, Mariano e Adriano tinham uma oportunidade de mostrar o seu valor no onze titular. Mas foi o uruguaio Fucile, de regresso à lateral direita a “fazer de Bosingwa”, a ter a primeira oportunidade flagrante logo no início do jogo, numa confusão na área em que apenas em cima da linha alguém da defensiva boavisteira conseguiu travar violentamente com a cara.
Não durou muito este ímpeto inicial do FC Porto, pois cedo o Boavista conseguiu se adaptar às marcações a todos estes jogadores que não esperava ver em campo. Conforme a primeira parte decorreu, a equipa da casa começou a ter maior volume atacante e a rematar mais. Muitas vezes através de bola parada, com a defesa do FC Porto a ceder vários livres frontais de forma algo incaracterística. A primeira parte acabaria com um lance de bola parada mas na outra área, com Marek Cech a bater um livre com uma trajectória estranha que ameaçou ser desviada por alguém na área mas chegou directo a Jehle, que fez uma boa defesa.
Ficava a sensação que não estava a ser uma partida muito bem jogada e que o FC Porto tinha dificuldades em com este onze, apresentar a qualidade de jogo do costume. Uma substituição viria alterar este equilíbrio – Jesualdo trocou Lucho por Quaresma, o que até nem parecia fazer grande sentido para além da gestão de esforço que já mencionei, dado que Lucho era quem mais tentava criar ocasiões de perigo através sobretudo de passes a rasgar.
E os completos efeitos da substituição não se notaram imediatamente. O Boavista deixou de ter o maior domínio de jogo, mas causou grandes calafrios a Hélton em duas ocasiões. Primeiro Mateus antecipou-se ao primeiro poste a João Paulo, rematando muito perto do poste, e pouco depois um cruzamento desviado por Cech quase traía o guarda-redes brasileiro, obrigado a boa defesa.
Quaresma começou a ameaçar pouco depois, falhando o canto superior esquerdo da baliza de Jehle por pouco. A expulsão de Diakité pouco depois (por acumulação de cartões amarelos) talvez tenha sido o que finalmente desequilibrou a organização do Boavista – a partir daí sucederam-se os lances de perigo criados pelo ataque portista a um ritmo elevado. Stepanov chegou a marcar golo, mas foi anulado devido a fora-de-jogo milimétrico mas existente. Quaresma teve outros dois remates perigosíssimos, um num remate rasteiro muito ligeiramente desviado, outro que acertou em cheio na junção do poste com a barra. Até final e já no período de compensação, apenas registo de duas entradas muito duras sobre Fucile, uma das quais parecia-me justificar o cartão vermelho. Desnecessária e incompreensível esta atitude dos axadrezados.
Destaques individuais: claramente Quaresma por todos os remates perigosos (falhou 3 golos por muito pouco...) e não só, também esteve particularmente inspirado nos dribles e combinações com outros jogadores. Nos últimos jogos tenho sido bastante crítico das suas exibições, mas hoje viu-se um Quaresma que conseguiu render a um nível muito mais elevado. Parece-me acertada a gestão de esforço que Jesualdo Ferreira fez em relação a este jogador, conforme o próprio Quaresma explicou na conferência de imprensa. Outro jogador que esteve bastante bem foi Fucile, com um estilo de jogo um pouco diferente de Bosingwa mas hoje a integrar-se no ataque com a mesma eficácia. Pequena nota para Hélton que tem recebido algumas críticas mas que hoje esteve bem seguro sempre que foi chamado a intervir. E pequena grande nota (desculpem o cliché...) para Paulo Assunção, que cada vez tem aprendido a se tornar mais um organizador de jogo a partir de trás, acrescentando grande valor às qualidades que todos lhe reconhecemos a destruir o jogo do adversário.
Não tão bem esteve Mariano González, aqui e ali conseguindo um bom pormenor ou inventando uma boa ideia para criar jogo, mas tal não compensou todas as bolas que perdeu. A dupla de avançados que iniciou a partida (Ernesto Farías e Adriano) também esteve infeliz, raramente se integrando no jogo nem dando grande uso às poucas bolas que lhes chegavam – Farias tem sido opção regular e não deverá perder o estatuto com este jogo, já o brasileiro pode ter aqui desperdiçado uma oportunidade para se impor. Lucho González esteve bem a inventar linhas de passe mas demonstrou uma inédita tendência para fazer faltas perigosas. Não é este o tipo de agressividade que eu quero ver no argentino. Finalmente, Kazmierczak teria passado completamente despercebido não fosse alguns remates que efectuou. Para fora.
No final, um empate a zero não reflecte a emoção que existiu neste derbi, que merecia golos. Fica a ideia que o FC Porto talvez justificasse a vitória, mas isto pode ser condicionado pelos últimos minutos terem sido de domínio portista – as últimas impressões são as que têm mais impacto. Os dois pontos perdidos dificilmente farão qualquer diferença neste campeonato, quem sabe com o derbi lisboeta de amanhã (Sporting-Benfica) não sairemos desta jornada ainda com mais pontos de vantagem do que aqueles com que entramos?
Agora venha o Schalke.